Na manhã quente de verão de 15 de julho de 1997 em Miami, um barulho de tiro ecoou por South Beach. Um corpo caÃdo na frente de sua mansão. Uma escadaria ensanguentada e a certeza da perda de um dos mais revolucionários estilistas do Século XX provocada por um dos assassinos mais enigmáticos da história americana. E com essa premissa, a 2ª temporada da antologia criminal de American Crime Story reescreveu a história e nos apresentou um verdadeiro thriller psicológico.
Baseada no livro de Maureen Orth – Vulgar Favors: Andrew Cunanan, Gianni Versace, and the Largest Failed Manhunt in U.S. History – com produção de Ryan Murphy (Glee, American Horror Story) e script por Tom Rob Smith, o verdadeiro protagonista de ACR: Versace é justamente o assassino. Esqueça o foco em Gianni e Donatella, a grande estrela é Andrew Cunanan, interpretado pelo brilhante Darren Criss (Glee) que deu um show à parte na sua interpretação.
Diferente da 1ª temporada, ACR: Versace funciona em ordem cronológica inversa, ou seja, o primeiro capÃtulo mostrou o assassinato de Gianni e a fuga de Andrew após o crime. A partir do segundo, começamos então a entender a trajetória percorrida pelo assassino desde de sua primeira vÃtimas, o marinheiro Jeffrey e seu ex-amante David em Minneapolis em abril de 1997.
Mesclando cenas dos irmãos Versace, eles claramente são colocados em segundo plano, e isso é de propósito. Não queremos ver um documentário sobre a relação de Gianni, sua compania e sua irmã. E sim, entender a mente perversa de Andrew e sua obsessão pelo italiano, que culminou no seu assassinato.
Penélope Cruz está radiante como Donatella Versace. A atriz embora não tenha semelhança fÃsica alguma com a estilista, está com o modo de falar exato da loura. O tom rouco, o inglês forte, a personalidade glamurosa, são peças chaves para a composição da personagem. Édgar RamÃrez é só elogios a sua interpretação de Gianni. Não somente pela incrÃvel semelhança fÃsica, mas pelo tom melancólico e genial do costureiro. Ricky Martin completa o trio de principais atores, interpretando Antonio D’Amico, companheiro do estilista e ex-modelo. Porém, o personagem pouco acrescentou a história, tendo falas curtas e aparições sem aprofundamento.

Fazendo oposição à The People v. O.J. Simpson e a questão do racismo na América da primeira temporada, The Assassination of Gianni Versace questiona o papel da homofobia na sociedade, e a caçada vergonhosa do FBI por um assassino que estava a mesês na lista dos mais procurados, que matava somente outros homens gays trás uma crÃtica social e um tom polÃtico para a temporada. A série também trás à tona Gianni fragilizado por conta de uma doença não esclarecida, levantando suspeitas de que o estilista fosse portador do HIV, fato que nunca foi comprovado oficialmente.
Em nenhum momento os roteiristas tentam justificar os crimes cometidos por Cunanan. Chega ser assustador acompanhá-lo episódio por episódio fazendo mais vÃtimas de sua matança. As cenas dos assassinatos, especialmente de Lee Miglin e de Jeffrey chegam a ser sufocadoras e criam um impacto em cena – trazendo um lado ainda mais escuro para a temporada.
As mentiras de Andrew para cima das vÃtimas e suas trapaças levantam ainda mais o questionamento dos motivos que o levaram a se tornar um serial killer. No episódio 8 (Creator / Destroyer), somos levados para a infância de Andrew e sua adolescência. O inÃcio de tudo, que começam em casa com o seu pai, que tinha um amor tão profundo pelo filho, que ignorava os outros em prol de seu herdeiro. Seus dias em Bishop’s School na comunidade rica de La Jolla, em San Diego, a verdade sobre as trapaças financeiras do pai, e a grande ideia de criar a sua própria história como quisesse. Tudo oque precisava era demonstrar sua inteligência e charme.
Destaque não somente para os atores já citados, mas também por toda a produção da série. A fotografia está impecável. A recriação da cena do assassinato de Gianni foi filmada nas mesmas escadarias de sua mansão em Miami, e dão arrepios ao assisti-la e depois ver as fotos da época. A escolha de Versace como segunda temporada também foi outro acerto dos roteiristas, já que o plano era que esta fosse ao ar somente em 2019 sendo seguida por uma temporada retratando o descaso polÃtico e governamental em relação as vÃtimas em Nova Orleans, após o Furacão Katrina.
Até a próxima,
Pedro!